"A palavra "SOLIDÃO" faz pensar em tristeza. E é verdade.
Solidão é triste. Mas uma pitada de tristeza não é tão ruim quanto se pensa.
O que é realmente ruim é uma coisa que acontece quando
não estamos em solidão, quando estamos no meio dos outros.
Os outros exigem de nós que estejamos alegres. Por isso se fazem
tantas festas e se oferecem tantos churrascos no fim de semana:
para espantar a tristeza. O fim de semana é ameaçador.
O fim de semana é onde mora a possibilidade de estar sozinhos.
A solidão, a tristeza.... Festas e churrascos são rituais mágicos cujo objetivo é exorcizar a solidão.
É só a gente ficar silencioso e meditativo que uma pessoa bem intencionada
nos procura para saber o que está acontecendo.
Fernando Pessoa sabia o que estou dizendo. E colocou um verso: "Oh! A Suprema Felicidade
de não precisar de estar alegre!" Um pouco de tristeza faz bem á alma.
Ela fica mais bonita. Alberto Caeiro, falando sobre a sua solidão, dizia
"toda a paz da Natureza sem gente vem sentar-se ao meu lado. Mas eu fico triste
como um pôr-do-sol quando esfria no fundo da planície e se sente a noite entrada como uma
borboleta pela janela. Mas a minha tristeza é sossego porque é natural e justa
e é o que deve estar na alma." A paz da natureza sem gente!
Pense nisso. Com gente, a natureza perde a paz.
O falatório nos rouba da comunhão com as montanhas, com as árvores, com o pôr-do-sol".
Rubem Alves