"Faz um certo tempo que queria escrever um texto sobre isso. Notadamente não sou um erudito em psicologia, sou simplesmente um dedicado praticante e estudioso do Yoga. Experiencialmente, tenho muitas coisas a contar sobre os efeitos da prática do Yoga em seus aspectos emocionais.
Reich, um dos expoentes estudiosos da psique humana do século passado, ao lado de Jung e Freud, teorizou sobre as couraças. Seriam as impressões em nosso corpo, nos músculos, deixadas por todas as experiências.
Sejam lembranças e ou traumas que temos ao longo da vida. Por tanto, nosso corpo e nossa postura seriam moldados pelas nossas lembranças e sentimentos.
Todo o padrão de comportamento, ansiedade, irritabilidade, medos, por exemplo, estariam estampados em nosso corpo, em nossos músculos, nessas couraças. Um trabalho aprofundado de autoconhecimento do corpo, de alongamento, fortalecimento e energização, feito de forma metódica, poderia por conseqüência, livrar-nos dessas couraças e tensões musculares. Em minha experiência pessoal considero o Yoga um trabalho ideal nesse sentido. Completo. Que me ajudou e vem me ajudando muito. Pouco se fala sobre esse efeito terapêutico do Yoga.
Lembro-me de quando comecei a praticar Ashtanga Vinyasa Yoga. Mesmo tendo vindo de seis anos de prática de Jiu-Jitsu, estar em boa forma, e praticando regularmente surfe, não me sentia capacitado a realizar os mais básicos exercícios do Yoga. Fiquei chocado! Não tinha o menor poder de concentração. Não tinha o menor controle da minha respiração. Não me sentia preparado para manter-me emocionalmente equânime diante as desafiantes posturas do Yoga. Não sentia força nem resistência nos músculos que precisava. Não tinha flexibilidade. Não tinha a menor noção de equilíbrio. Minha coordenação motora era primaria.
Tive muita sorte em ter como primeira professora a Jamile Ansolin. Isso no tempo que morei lá em Floripa. Ela teve muita paciência comigo, muito carinho, além, é claro, de ter muita experiência teórica e vivencial de Yoga. Aos poucos ela foi me ensinando que Yoga não era uma competição. Minha mente provavelmente muito acostumada em competir, tanto pelo Jiu-Jitsu, quanto pela vida profissional, se escorregava sempre em fazer as posturas competindo, querendo ser melhor que eu mesmo e que as outras pessoas da sala. Como se eu quisesse provar algo a alguém. Patético! Ela foi me mostrando que Yoga é um caminho para dentro, de interiorização, de autoconhecimento, de auto-aceitação. Não há competições. Não há pressa.
O Yoga nos impõe vários desafios, o primeiro talvez seja o de observar a nossa própria respiração durante as posturas. Observar que tipo de pensamentos afloram em nossa mente, decorrentes das posturas e que tipo de sentimentos surgem, sejam de raiva, medo, prazer…Ou seja, o desenvolvimento da consciência testemunha.
As posturas são também um grande desafio, exigem força, alinhamento, noções de equilíbrio, entre outras coisas, como paciência. Com a prática, com o processo de aprendizado, com a auto-observação, fui desenvolvendo força, equilíbrio, controle da respiração, flexibilidade, coordenação motora, capacidade de concentração e por fim, certa equanimidade emocional diante das desafiantes posturas.
Sim, o trabalho corporal do Yoga é muito profundo, muito forte, sentia e ainda sinto, cada vez mais meu corpo mais forte e ao mesmo tempo sem tensões. Aos poucos fui conhecendo todas as amplitudes de movimento, todas as capacidades. Fui conhecendo os sentimentos que afloravam, fui observando como me sentia, o que guardava.
Pra quem me conheceu antes do Yoga não é surpresa que eu era uma pessoa extremamente impulsiva, compulsiva e ansiosa. Diferente de hoje, acredito. Era muito insensível também e não me emocionava e nem chorava com nada. Era bloqueado. As experiências que tive e ainda tenho com as posturas do Yoga são muito fortes e sensibilizantes. É num primeiro momento estranho perceber que às vezes posturas simples podem desencadear emoções das mais diversas, como extrema alegria, paz, choro, raiva, medo, prazer, felicidade, um leque tão grande…Isso tudo, a percepção e a libertação gradativa das couraças e dessas impressões em nossa postura e músculos, o que só a prática proporciona, foi trazendo, consciência corporal, resolução emocional, maturidade, equilíbrio e paz. Sem contar na sensação ecologicamente correta de que o universo inteiro é uma família. Na visão Hindu, as posturas vão liberando os canais de energia…
Não posso deixar de dizer também do que a prática do Yoga faz com o corpo. Além de ganhar uma flexibilidade incrível, nunca me senti tão forte e resistente. O corpo fica forte por igual, nada desproporcional e com pouca gordura. Sinto-me um menino ágil. Gosto de arvorismo, faço escalada em rocha, ando muito de bicicleta e surfo quando posso. Um tempo atrás visitei meu professor de Jiu-Jitsu, fiz uma aula e algumas lutas. Puxa, lutei como se estivesse treinado e já não pratico há cinco anos! Resumindo disposição não me falta. Mérito unicamente do Yoga.
Ressalto que o Yoga não pode ser confundido com rebuscação estética, como para desenvolver um abdome “tanquinho” ou coisa do gênero. O corpo fica desenhado sim, mas como conseqüência. O Yoga busca plenitude em todos os âmbitos, principalmente emocional e espiritual para alguns. O corpo em forma seria apenas um “efeito colateral”.
Hoje me sinto mais humano, mais sensível, mais equilibrado e conhecedor dos meus limites. Como já dizia meu pai: “Você é muito 8 ou 80!”. Nas escrituras antigas diz-se que: “Yoga é o caminho do meio”. Bom, eu estou buscando."
E é por tudo isso que eu Amo a Yoga