segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A vida exige leveza


" A vida exige leveza, assim como a viagem. A estrada fica muito
mais bonita quando podemos olhá-la sem o peso de malas na mão.
Seguir leve é desafio. Há paradas que nos motivam compras, suplementos
que julgamos precisar num tempo que ainda não nos pertence, e que 
nem sabemos se o teremos. Temos a pretensão de preparar o futuro.
Eu tenho. Talvez você tenha também. É bom que a gente se ocupe 
de coisas futuras, mas tenho receio que a ocupação seja demasiada.
Temo que na honesta tentativa de me projetar, eu esqueça de ficar no hoje
da vida. Os pesos nascem desta articulação. Coisas do passado, do presente
e do futuro. Tudo num tempo só. Há uma cena que me ensina sobre tudo isso.
Vejo o menino e sua pipa que não sobe ao céu. Eu o observo de longe. 
Ele faz de tudo. Mexe na estrutura, diminui o tamanho da rabiola, e nada.
O pequeno corte de papel colorido, preso na estrutura de alguns feixes
de bambú retorcidos se recusa a conhecer as alturas. O menino se empenha.
Sabe muito bem que uma pipa só tem sentido se for feita para voar.
Ele acredita no que ouviu. Alguém o ensinou o que é uma pipa, e para que serve.
Ele acredita no que viu. Alguém empinou a pipa ao seu lado. O que ele agora
precisa é repetir o gesto. Ele tenta, mas a pipa está momentaneamente 
impossibilitada de cumprir a função que possui. Sem desistir do projeto,
o menino continua o seu empenho. Busca soluções. Olha para os amigos
que estão ao seu lado e pede ajuda. Aos poucos eles se juntam e realizam
gestos de intervenção..... Por fim, ele tenta mais uma vez. O milagre acontece.
Obedecendo ao destino dos ventos, a pipa vai se desprendendo das mãos
do menino. A linha que até então estava solta vai se esticando. O que antes
estava preso no chão, aos poucos, bem aos poucos, vai ganhando a imensidão
do céu. O rosto do menino se desprende no mesmo momento em que a pipa
inicia a sua subida. O sorriso nasceu, floresceu, sem querer futuro, sem querer 
passado. Sorriso de querer só o presente. As linhas da mão. A pipa no céu...

Fábio de Melo 







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